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quarta-feira, 21 de maio de 2008

Sem isso nem aquilo.

No meio de uma aula de história, com o tema “filosofias de governo”, uma vontade insana de levantar da minha carteira e gritar com o indivíduo a minha frente, aflorou tão rapidamente que no impulso, eu levantei. Mas fui obrigada a disfarçar e pedir pra ir ao banheiro.

Tudo isso porque quando o professor comentou que a filosofia do capitalismo era: propriedade privada, livre iniciativa, livre comércio, acúmulo de capital, individualismo, desigualdade vista como natural do sistema, e a crença de que ser rico depende de nosso único e exclusivo esforço, o garoto teve a idéia de comentar:

-Vai dizer que não é? Já ouvi dizer que um cortador de cana conseguiu cortar cana por cinco anos, depois ele foi promovido a vendedor, depois a chefe de vendas, e hoje ele é gerente do seu próprio negócio. Se todos se esforçassem, o mundo inteiro seria rico.

É incrível, ou talvez seja apenas esperado, que um aluno supostamente bem informado, tenha uma idéia tão tapada do mundo em que vivemos. É inacreditável, que existam pessoas tão próximas a nós, que pensem assim.

Se o indivíduo em questão tivesse que trabalhar cinco anos cortando cana, com carga horária de 18 horas por dia, só recebendo no período de colheita e passando fome nos outros meses do ano, para então ser promovido a vendedor de cana, duvido que fosse a favor do pensamento, que dinheiro depende de nosso esforço.

O capitalismo é uma filosofia que lidera todos os países do mundo com exceção de Cuba, que apesar de ter aberto seus portos para poucos produtos estrangeiros, ainda é socialista. O capitalismo compra a integridade do homem, heróis do povo que eram contra o capitalismo, e se diziam socialistas, se diziam de esquerda, hoje governam o Brasil de forma vergonhosa. O capitalismo distorce programas criados para o incentivo da independência familiar, e cria o fome-zero. O sistema também corrompe supostos lideres do povo trabalhista, como o ilustre deputado, e ladrão, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, que com o maior cinismo por ele encontrado responde as acusações de desvio de dois milhões de reais de empréstimos do BNDES, com a declaração “ Existem milhares de Paulinhos no mundo, porque tem que ser eu?”.

O liberalismo econômico dá certo para parte da população, mas infelizmente, não abrange a todos de forma igualitária. E quem defende a teoria do esforço para se tornar rico, deveria ter a consciência que dois terços, da população mundial, que podem ter se esforçado ao máximo, está abaixo da linha da pobreza. Ou seja, vivem na miséria. Sem casa, sem comida e sem roupa. Nem suja, nem lavada.

Não sou a primeira, muito menos a última a discordar do sistema, e da situação atual da distribuição de renda. Mas acho que deveríamos demonstrar o mesmo empenho que destinamos para outras causas, no quesito ser humano. E termos a consciência de que, não ter nascido na periferia de Gabão e sim em uma casa limpa e arejada em um condomínio fechado, foi obra do acaso.