Quer ler o que?

terça-feira, 28 de julho de 2009

Pu-239

Paulo tocava guitarra, baixo e bateria. Falava inglês, estudava russo e era um aluno bom. Tinha uma inteligência além do conteúdo escolar, sabia de lógica, interpretação, e relações humanas. Era adorado por vários professores, tinha habilidades na área de humanas, esforço na área de exatas. Poucos e bons amigos, e uma garota pronta para ser sua futura namorada.

Gostava de Janis Joplin, David Bowie e Legião. Entendia de cinema, arte e queria ser músico profissional. Conseguia pensar em um futuro em meio a guerra que o país se encontrava.

Tinha uma banda que se chamava “Pu-239”, em homenagem ao filme preferido da mãe de um dos integrantes. Ensaiavam sempre, tinham músicas próprias.

Paulo era definitivamente um garoto feliz, ele sonhava com uma banda de sucesso, aquela namorada, um mês na Rússia, e uma aprovação na faculdade.

Quando completou 18 anos, se alistou no exército. Alegou miopia, e rinite. Não tinha problemas maiores. Teoricamente ele não seria aceito no exército quando alegasse miopia. Mas, o país estava em guerra, e aquela altura chamavam até os mancos. Foi aceito.

A família o acalmou, dizendo que a guerra já estava quase no fim, e que ele ficaria em um posto fixo, no quartel. Disseram que esperariam por ele, e que quando ele voltasse todos estariam na mesma posição que estavam quando ele fosse para a guerra.

A mãe lhe deu um beijo, o pai um abraço, a irmã um walkman com um CD da Janis, a banda um pequeno chaveiro em formato de guitarra e a garota um beijo.

Foi para a frente de batalha. Mandou uma carta pra família explicando que as vagas nos postos fixos estavam preenchidas, e que no dia seguinte sairia com a tropa em direção aos inimigos. Foi a primeira batalha de Paulo, e a última das tropas.

Dois meses depois, a família recebeu uma caixa. Dentro, o chaveiro, o walkman, a Janis, um bilhete e uma carta. A mesma que a mãe escreveu em desespero quando foi avisada da função do filho no exército, a carta tinha as letras borradas de lágrimas, e dois beijos manchados de batom no final das páginas.

O bilhete dizia simplesmente “Amo vocês e espero vê-los sentados na sala quando eu chegar”. Hoje, Paulo não toca, Paulo não fala, Paulo não volta.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Fátima

Fátima escreveu três livros, setenta e dois poemas, vinte e cinco crônicas, dois projetos sobre a distribuição de renda e a igualdade social, uma tese de mestrado em sociologia moderna, e sete propagandas geniais. Tudo impresso, encapado e com espiral sem nunca ter saido de dentro da gaveta da sala de jantar.

sábado, 11 de julho de 2009

Seu Antônio

Todos os dias Seu Antônio acordava as seis horas da manhã, se vestia e tomava uma xícara de café. Assim que o sol nascia, descia os três degraus que o levavam para a rua e seguia em direção a banca do próximo quarteirão.

Sentava-se num banco ao lado, e esperava, com um livro aberto no colo, Seu Joaquim subir as portas de metal e vender o primeiro jornal do dia. O segundo era sempre de Seu Antônio.

Sempre antes de comprar o seu próprio, Seu Antônio perguntava para o primeiro leitor quais as principais notícias do dia. Dizia que isso que o instigava a comprar o jornal.

Ficava por toda a manhã escondido atrás das páginas acinzentadas, deixando o livro da vez aberto ao seu lado, com a capa pra cima.

Passava por todos os cadernos, e os dava a mesma atenção, até mesmo a coluna social e o especial para crianças, que só publicavam de domingo.

Na rua, diziam que de tanto ler, ele tinha aprendido a lidar com as pessoas. Murilo, um garotinho do bairro, dizia que quando crescesse, ele ia querer devorar as letras que nem o Seu Antônio.

Quando acabava todas os cadernos do jornal, comprava frutas da quitanda da Dona Marilda, e ficava a tarde comentando as notícias com Seu Joaquim. Concordavam sempre.

Adorava jogar conversa fora. Ficaram amigos assim, um comprando o jornal e ambos dando opiniões sobre todas as notícias.

No fim da tarde, o sol se punha, as frutas acabavam, a banca fechava, e Seu Antônio voltava pra casa, sozinho. Subia os três degraus, que a cada dia pareciam mais longos, e se sentava na poltrona da sala. Guardava o jornal no armário do corredor, junto com muito outros e se preparava para ir dormir. Tomava banho, preparava seu próprio jantar, e depois assistia televisão.

Antes de dormir, rezava. Rezava para que ninguém nunca descobrisse, que na realidade, ele não sabia ler.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Meu LG nem tão Shine, mas ainda Slim




Ok. A foto não é boa, nem o celular.

Esse é o meu LG shine slim. E a foto do pobre celular está no meu blog em apelo ao Danilo Gentili!

Quando eu ganhei, uns 2 anos atrás, ele era novo, brilhante e eu prometi conseravá-lo ao máximo.

Tanto, que pra não estragar eu levava na bolsa e não no bolso. Um dia que o coloquei na bolsa, eu guardei junto uma lixa de unha que riscou a frente, e a camera atrás. Portanto, não tenho mais câmera fotográfica.

Depois, como todo shine slim, o teclado caiu com o tempo. Em tentativa de conservação, eu colei o teclado com super bonder, duas vezes. Funcionou da primeira vez, inundou o celular da segunda. Quando inundou, 3 botões pararam de funcionar. As setas para cima e para baixo, e o menu.

Como o menu parou de funcionar, ele está para sempre no vibracal, e as setas? bom, só não posso ler mensagens maiores que uma tela. E só acesso as mensagens pela tecla que representa a seta para a direita.


A lista telefônica, eu acesso através da parte de enviar mensagens. Como não tem as setas pra cima e para baixo, eu preciso digitar o nome completo de quem eu quero consultar o numero.

Outro dia, quando coloquei o celular no bolso (depois de desistir de conserva-lo) o teclado que cobria o um, o cinco e o tres caiu. e então eu desisti. Agora, eu tenho tres botões moles, e falhos.
Resumindo:
- Meu celular não tem câmera
- Não tem teclado
- Não tem menu
- Não le mensagens grandes
- Não corre a lista telefônica
- Não tem toque
- Não tem como ouvir música
- Tem muito super bonder respingado pelo teclado e pela tela.
Danilo Gentili, eu mereço um Nokia N85!
Ps: Meus amigos preferem não ligar pra ninguém, a usar meu celular.

terça-feira, 7 de julho de 2009

E Agora?

- E agora?

- E agora o quê?

- Como o quê? O que que eu faço, ué.

- Decide!

- ..?

- Já que você não sabe, espera a Patrícia chegar que ela resolve!

- E se ela demorar?

- O que você conseguia fazer, você já fez.

- É maior do que eu, entende?

- Não.

- É como se as minhas habilidades fossem inúteis.

- Pelo amor do São Marco Antonio de Biaggi! Isso não é culpa sua! Você fez o seu melhor!

- Mas, mas e se eu escolher errado?

- Não vai! Tudo vai dar certo!

- Queria fazer alguma coisa pra tentar ajudar

- Tipo o quê?

- Não sei, ligar pra alguém... sei lá!

- Vai ligar pra quem, que possa te ajudar?

- Não sei! Você devia estar ajudando.

- Mas eu estou aqui do seu lado.

- Estar do meu lado não ajuda!

- Então tchau.

- Nãão, fica!

- Então não reclama.

- Ta. Senta.

- Já sentei

- Posso deitar no seu colo?

- Pode... respira...

- To respirando...

- ...

- ...

- Não adianta você ficar ai com cara de depressiva.

- Mas eu estou depressiva!

- E isso ta ajudando?

- Não...

- Então para!

- Ta.

- Liga pra Patrícia e vê onde ela ta.





- O que que ela falou?

- Que já ta vindo.

- Ela é melhor que eu pra ajudar

- Ai, to confusa.

- Quer um chocolate quente? Uma água?

- Um porre.

- Um porre não vai ajudar.

- Nem uma água!

- Não grita!

- Eu to em pânico! Acho que vou ligar pro Pedro!

- Pra que?

- Quem sabe ele me ajuda?

- Jamais! Nem sonha!

- Mas ele é a melhor pessoa!

- Olha pra mim, e presta bem a atenção..

- To prestando

- Nunca, eu disse nunca, ligue pro Pedro!

- Você não quer tentar de novo?

- Mas eu já vi umas sete vezes!

- De novo!

- ...

- Por favor! Me ajuda!

- Vou tentar.

- Vê direito!

- Você ta em dúvida entre o vermelho e o preto?