Quer ler o que?

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Gordo.

Era um homem Gordo. Muito Gordo. Tinha a palavra “repugnância” subentendida na testa, e olhos fundos.

A camiseta tinha uma estampa silcada desaparecendo as partes e deixava um pedaço da barriga, pendurada pra fora da calça, aparecendo. Uma faixa de pelos em pequenos redemoinhos entre o verde da parte de cima com o jeans azul sujo de terra. O jeans era fechado apenas pelo zíper, deixando o botão aberto, tinha as barras com rasgos provocados pelos passos e uma ponta pendurada que ficava por baixo do chinelo “havaianas” azul claro de sola branca, que àquela altura era marrom.

Em uma mão, o homem mantinha um copo americano de bar preenchido até a metade com uma cerveja quente e aparentemente sem gás. Na outra, um cigarro Derby Azul. Tinha terra entre a unha e a carne dos dedos, unhas lascadas, e anormalmente grossas. No pé, a unha do dedão encravada e com uma bolha de sangue seco.

O homem levava o cigarro a boca, beijando os dedos sujos até as digitais. A fumaça, ele não se dava ao trabalho de assoprar, simplesmente abria a boca esperando que ela se esvaísse depois de apodrecê-lo ainda mais. Quando abria a boca, se entrevia os dentes amarelos cobertos com tártaro e placa. Faltava-lhe um dente na parte inferior da boca, ao lado do canino no lado esquerdo. E na parte superior, um pedaço do dentre frontal direito não existia mais - Deve ter ficado em uma briga de bar.

Os olhos, os olhos tinham o dom do estupro, e despiam qualquer par de tetas que aparecesse ao alcance da vista. A barba lhe preenchia o rosto, com pelos disformes e parcialmente grisalhos.

Estava prostrado em um boteco amarelo, sua presença fazia as paredes descascarem, e seu cheiro incomodava aos clientes e aos passantes. Cheirava a enxofre e Jatobá, na camiseta tinha marcas de suor embaixo dos braços, deixando a área molhada de um tom verde escuro.
Ficava parado na beirada da porta, com os calcanhares apoiando o peso do corpo e os dedos ao ar.

Tinha um sorriso malfeitor, e raramente saia do batente da porta. Só saia para comer, se alimentava de Pepino, batata e salsichas em conserva. Salsichas Gordas. Gordas que nem ele.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Recesso

Estou sem paciência, sem inspiração e sem tempo.
Não que eu não tenha nada a dizer, eu tenho.
Mas eu não tenho conseguido organizar meus pensamentos e colocá-los no blog.
Acho que estou saturada com as aulas integrais, a rotina e o fato de eu ter abandonado os cursos que me davam prazer.
Graças ao vestibular, sai do teatro, do inglês e da minha vida social.
Mas, como diz minha mãe, é um ano que se perde pra quatro que se ganha. Isso se eu passar. O que pode não acontecer. Bom, eu continuaria a escrever sobre o meu mais novo pesadelo, mas eu tenho que ir ler Iracema. Queria tentar esfaquear o livro pra ver se a Insuportável morre mais rápido.
Até breve.


Mentira.

domingo, 9 de agosto de 2009

Sagitário

- Quero fazer uma tatuagem.
- Onde?
- Na coluna.
- Coluna?
- É... Um pouco pra cima da lombar, e descendo pela bunda e terminando na coxa.
- Ok. E o que vai ser?
- Algo com fogo.
- Porque?
- Sou de sagitário.
- E daí?
- O símbolo do sagitário é o fogo.
- Não entendo nada de signos, energias, essas coisas shangrila.
- Percebi. Mesmo porque,uma coisa não tem nada a ver com a outra.
- É... mas eu entenderia.
- ?
- Se eu pudesse...
- Tem uns cursos na internet.
- Eu sei... E o de aquário?
- O que?
- Qual é o símbolo?
- Não sei, deve ser água. Pela lógica.
- Será que o par perfeito pra aquário é peixes?
- Faz sentido... mas não deve ser o único, fundamental.
- Como assim?
- Não deve ser obrigatório peixes e aquários formarem um casal.
- É... também faz sentido.
- Imagina que engraçado se todos os signos fossem complementos teriam quimioterapianos.
- Oi?
- De quimioterapia, pra fazer par com câncer.
- Ai que humor negro.
- Não foi tanto.
- Foi horrível, imoral.
- Você ta fazendo com que eu me sinta mal.
- Jura?
- É acho que é dor de cabeça.
- Deve ser um nódulo.
- Oi?
- As energias que a gente exala voltam pra gente. Se isso for verídico, depois da sua piada você tem um nódulo.
- Você acabou de dizer que não entende nada de signos e energias.
- Mas eu entendo de nódulo.
- Conhece alguém que teve câncer?
- Não.
- Então?
- Eu fiz um curso de oncologia na intenet.
- O que você pode fazer com um curso de oncologia no diploma?
- Te diagnosticar com um nódulo.
- De verdade que você acha que eu tenho um nódulo?
- Não sei, oncologia não é uma ciência exata.
- Claro que é.
- Não no curso que eu fiz.
- Então não é válido.
- Você devia fazer um exame.
- Pra ver se eu tenho câncer?
- Ou um nódulo.
- Não viaja.
- Não é viagem, é câncer.


- Não vou mais fazer a tatuagem.
- Er, porque?
- Ah, não combina!
- Com o que?
- Com o meu novo visual depois da quimioterapia...