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sábado, 28 de novembro de 2009

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- Gregório... presta a atenção... a gente precisa conversar. Senta. Olha, ahn, é uma coisa bem difícil de dizer, mas eu vou.

É o seguinte, a nossa relação, o nosso namoro, não nossa amizade, eu adoro conversar com você e rir com você, voce é um cara muito engraçado e inteligente, mas o nosso namoro, se é que a gente pode chamar essa relação de namoro, tá passando por uma fase meio conturbada pra mim. Tá ficando meio sério, a gente já conhece os amigos uns dos outros e jajá eu vou conhecer a sua família e voce a minha, e eu não sei se eu to pronta. Entende?

Eu to meio confusa, e eu até acho injusto falar isso pra você, porque eu sei que voce é um cara muito legal e tal...

Não é nada contra você, eu até gosto de você, mas eu acho que tá ficando íntimo demais. Eu não lido bem com intimidade demais, eu preciso do meu espaço.

Não é pra ficar bravo comigo, ou chateado. Eu quero que a gente continue amigo quando essa conversa acabar. Eu queria que a relação continuasse do jeito que tá, mas como dizia Parmênides, as coisas estão em constante movimento, e eu sei que não dá pra estatizar a relação.

Eu sei que se a gente continuar com esse namoro a gente vai deixar as coisas mais sérias, então eu tava pensando e cheguei a conclusão que talvez seja melhor a gente terminar.

Mas olha, eu quero que a gente continue amigo que nem sempre, e quero que voce saiba que voce ainda vai encontrar alguém que te valorize mais do que eu, e que esteja pronta pra uma relação dessas.

Você é um cara muito legal, eu me diverti muito, e eu gosto muito de você, mas eu acho que não dá mais.

Não fica chateado, por favor, não fica.

É que eu acho que talvez você esteja levando isso mais a sério do que eu, que voce esteja gostando mais de mim do que eu de você.

Meu deus como é difícil dizer isso. Não é bem terminar porque a gente não tinha nada oficial, é um afastamento. E a gente ainda vai conversar normal.

Fala alguma coisa.

O que você acha?

- Tá.

- Oi?

- Tá.

- Gregório, eu não quero que você fique chateado, tudo bem?

- Não estou.

- Tem certeza? nem um pouquinho? Pode falar se estiver.

- Não, tá tudo bem.

- Mesmo?

- Mesmo.

- Então acho que a gente se vê?

- Quem sabe.

Ela ligou pra ele 12 vezes durante a tarde, 23 durante a madrugada, e 2 na manhã seguinte. Mas, dessa vez, ele não estava pronto.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Na gaveta.

Ela escreveu um texto que resumia em palavras toda a dor que ela sentia, um texto sincero, sem rodeios, que explicitava todos os pensamentos, as frustrações, e as mágoas que ela sentia com relação à família, vida e amigos.
Ela não publicou. Com medo que as pessoas se machucassem com a sinceridade demais.

domingo, 8 de novembro de 2009

Falência hepática

- Oi amor! Como voce tá?

- Com pressa. Me segue que a gente vai atualizando.

- Ok, o que aconteceu com voce?

- To acabada.

- Porque?

- Fui a um enterro hoje.

- Nossa, que merda.

- Pois é. Uma merda. Parece que quem morreu fui eu.

- A energia desses lugares é péssima, né?

- Super.

- Morreu porque?

- Torceu o pé.

- Anda mais devagar. Como assim morreu porque torceu o pé?

- Assim ué, torceu o pé foi pro hospital e morreu.

- Mas torceu quanto? Fratura exposta e hemorragia?

- Não, torceu o pé e foi pro hospital, quando passaram Gelol descobriram que o cara era alérgico e empipocou tudo.

- Alergia mata?

- Mata. Mas ele não morreu disso.

- Morreu do que?

- Deixa eu terminar a história.

- Ta. Anda mais devagar se não eu não acompanho a história e o passo.

- To com pressa, mesmo.

- Ta, eu dou uma corridinha, minhas pernas são mais curtas que as suas.

- Só uns centímetros.

- Não quero falar sobre isso. Continua.

- Então ai a alergia atacou o fígado, que já não era muito bom porque ele bebia um pouco.

- Morreu de falência hepática?

- Não. É que junto com o fígado começou a falhar uns outros órgãos.

- Falência múltipla de órgãos?

- Não. E olha que ele tinha uns problemas no coração, mas não.

- Nossa, problema no coração porque?

- A idade eu acho.

- Quantos anos ele tinha?

- 83.

- é...

- Então ai, o corpo ficou fraco e o cara pegou uma gripe.

- Dentro do hospital?

- Pois é.

- Que irônico, né?

- Super.

- Então morreu de gripe?

- Não, ele estava melhorando, ai decidiram contar que a neta tava grávida.

- Morreu porque a neta tava grávida?

- Lógico que não.Ele não podia sofrer emoções fortes. E ele enfartou.

- Nossa, que horror.

- O que?

- Morrer por uma notícia que era pra deixar ele melhor.

- Quem disse que ele morreu?

- Ué, você não foi no enterro?

- Fui, mas ele não morreu por isso.

- Pelo enfarte?

- É, ele sobreviveu.

- Nossa. Pra onde você ta indo?

- Entregar essas pastas. Esse salto ta me matando.

- Você não devia trabalhar de salto. Continua.

- Então decidiram colocar um marca passo.

- Coitado, morreu na cirurgia?

- Não, não precisou fazer.

- Porque?

- Morreu antes.

- Arritmia?

- Não, traumatismo craniano.

- Problema cardíaco causa traumatismo?

- Acho que não.

- Então...?

- Antes da cirurgia ele foi ao banheiro.

- Qual a relevância?

- Quando ele foi ao banheiro morreu.

- Ainda não entendi como.

- Pra chegar ao banheiro tem uma escada, ele caiu da escada.

- Bateu a cabeça e morreu?

- Exato.

- AI!

- Que foi?

- Torci meu pé.

- Nossa, ta feio mesmo.

- Ta doendo. Leva essas pastas pra mim na sala da Cláudia.

- Levo.

- Rápido!

- Ok, não quer que eu te leve no hospital?

- Não, obrigada.

- É melhor, ai eles fazem uns exames e passam alguma coisa nesse pé.

- Não, já to boa.

- Você tá pulando num pé só.

- Vamo, eles examinam bonitinho.

- Mas e o enterro?

- Esquece o enterro, vamos e eles passam alguma coisa.

- Promete que não vai ser Gelol?

PS: Primeiro o Bonaldi, agora o Tyler. O que será das minhas quintas a noite?
Boa sorte internacional pra vocês. Escritores exilados. E saibam que esse forno de cidade é mais legal. Muito mais legal.
Ou não.