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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Babe.

Uma bola de repulsa entalada na garganta rasgava os tecidos da sua integridade. Os dedos fincados em suas ancas a pressionavam contra o chão de terra. Suas mãos, cansadas de tentar, estiravam ao lado do corpo inerte.

Ela estava fria, morta. Pelo menos se sentia assim. Todo o calor do corpo estava concentrado nos olhos, que mesmo cerrados não impediam as lágrimas de escorrer. As gotas queimavam a face no caminho formado entre os cílios e os cabelos. Seus olhos não brilhavam mais.

O corpo dele sobre o dela, repetia os movimentos que rasgavam suas entranhas. Ela podia sentir coragem e razão se esvaindo do seu corpo, penetrando pela terra. Ela abriu os olhos e viu um semblante de prazer, quase um sorriso. As lágrimas corriam em velocidade constante.

Uma gota de suor começava a se formar no queixo, o líquido acompanhava o movimento. A gota caiu acertando o ombro esquerdo. Funcionou como uma bala, furando o corpo, corroendo a carne.

Ambos os olhos se encontraram. O prazer nos olhos dele sugavam seu orgulho e toda a integridade.

- Babe, não consigo continuar se eu te vir chorando...

Ele pegou uma camisa azulada e cobriu o rosto encharcado de lágrimas.

Ela via as fibras do tecido entrelaçadas umas às outras. O corpo começou a esquentar, incitando abstração. Não sentia mais desespero. Estava mergulhada em um tanque de frustração. Estava calma. Sentiu serenidade se espalhando pelas veias, preenchendo todo o vazio. Fechou os olhos.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Ego

Estavam paradas, uma de frente pra outra. Os olhos marejavam ódio e desespero. As mãos suadas tremiam com o indicador no gatilho. O suor escorria pela raiz do cabelo em direção às bochechas.

"Filha da puta", pensou. "Filha da puta!", disse. "FIlha da puta! Filha da Puta! Gritou se curvando como se sentisse dor. Agora, as lágrimas escorriam pelo rosto em direção ao queixo e despencavam no carpete creme.

Ela estava descalça, os dedos do pé se comprimiam contra o chão. Ela queria sentir dor.

Respirou fundo, levantou o tronco em um movimento ritmico e voltaram a se encarar. A mão livre colocou atrás da orelha a franja que antes colava na lateral do rosto. Os joelhos levemente dobrados mostravam a fragilidade de ambas.

"Teu ego me fudeu, sua filha da puta. Enfia teu ego no cu."

Mirou em direção ao peito da outra e atirou. Duas vezes. Acertou bem no meio do espelho.