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sábado, 26 de junho de 2010

Cinco Minutos

Levou a chama até a ponta do cigarro, a fumaça entrou pela garganta e preencheu os pulmões tentando amenizar a angústia percorrendo suas veias.

Ela estava morrendo, sentia seus órgãos se decompondo, o câncer era como o vento que consumia seu cigarro de forma mais rápida que os seus pulmões. O cigarro era a vida.

Riu com a ironia e tragou mais uma vez.

O instinto sustentava os olhos marejados, tentando impedir as lágrimas de escapar. As lágrimas, quando escorriam, eram pesadas e despencavam acertando o chão de terra.

Ela queria poder parar o tempo, parar as horas pra descansar. Cinco minutos de intervalo antes de voltar a definhar.

A próxima lágrima estava pronta. Passou o indicador pressionando a pálpebra inferior e roubou a gota salgada para si. Segurou o cigarro na mão oposta e esperou até a lágrima despencar dos dedos e acertar a brasa.

O cigarro apagou e ela sorriu.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Éramos sete.

Pedro foi viajar pra praia pra espairecer, Marina casou e teve dois filhos, Paulo morreu, Renata fugiu de São Paulo, Anderson sumiu com 21, Felipe foi morar na capital e eu fiquei aqui, esperando o Pedro voltar.

sábado, 12 de junho de 2010

Natureza Morta

O sangue escorria pelas luvas e gotejava nos sapatos de veludo. Ela olhava para o corpo com os pés atados no lustre e os cabelos quase tocando o chão. O cadáver nu tinha um corte na garganta e um caminho fresco de lágrimas por entre as sobrancelhas. A boca entre aberta deixava vazar o sangue ainda quente.

Era uma obra de arte. Ela segurou a faca, marcada com as digitais da vítima, apontando pra baixo ao lado da mão dependurada, e deixou cair. Pegou a câmera, tirou duas fotos e escondeu a máquina e as luvas dentro da tábua solta do assoalho. Pegou o telefone, embargou a voz e discou.

- Departamento de Polícia, qual a emergência?
- Su - su... suicídio. – Disse com a voz fingindo desespero.

Nenhuma lágrima escapava dos olhos ainda observando o cadáver.

- Quem é a vítima?
- Minha mãe.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Tomar no cu, viu?

Que que você esperava? Que eu fosse ficar me debulhando em lágrimas pra sempre? Que eu fosse ficar te implorando pra voltar? Tentando te provar errado, tentando te mostrar que podia ter dado certo?
Era só o que me faltava. Ter que te dar satisfação do porque eu não fiquei me remoendo depois que você terminou comigo. Só o que faltava.

Aaaaah, então agora eu sou a pessoa malvada que parou de falar com você. Com certeza, a culpa é minha. Fui eu a filha da puta que não teve coragem de ir contar pra você. Eu que fiz a cagada e não tive coragem de assumir. Ah tá!.

E agora que passaram três meses, você vem com a cara lavada, me perguntando porque a gente não continuou amigo? ‘ A gente pode continuar amigo..’ É a mesma coisa que dizer ‘ Olha, o cachorro morreu, mas a gente pode ficar com ele..’ Agora olha pra minha cara de quem quer o cachorro morto.

Você vem e faz uma pergunta idiota dessas, e depois eu que sou grossa. Eu que sou desequilibrada. Eu que sou a louca que ‘não sabe reagir sem dar escândalo’. Se você acha que isso é escândalo, você não devia levar essa conversa adiante. Porque ai você vai ver escândalo.

Ai, depois dessa conversinha de 'eu tentei fazer a amizade dar certo', tua namorada vem falar comigo me perguntando se tudo bem ela namorar com você. Ai eu respondo: Tudo sim, eu acabei de comer um sanduíche, quer o resto dele também? E eu sou a grossa. Não quer que eu seja grossa, não faça pergunta estúpida.

Tomar no cu, viu?