Quer ler o que?

domingo, 20 de março de 2011

Lavou o rosto com angústia e buscou a camisa, emprestada do patrão, na cadeira. Sentiu o algodão, que corria por seus braços e passou os botões por dentre o tecido listrado. Vestiu a calça social cinza, comprada para o enterro do pai, e na falta de cinto formoso, usou um cadarço amarrado a outro. Vestiria sempre o paletó.

Vestiu o pé com meias esportivas tingidas com anilina preta, e por cima os sapatos formais que ganhara do tio. Provavelmente o veria. Pegou a gravata azul, comprada para a ocasião, e passou ao redor do pescoço.Deu um nó com perfeição e o deixou frouxo. Não gostava do nó tocando a garganta. Puxou, pelo colarinho, o paletó que antes estava cuidadosamente dobrado e saiu.

Checou os bolsos por dinheiro para o ônibus e caminhou em direção ao ponto, vestindo o paletó. Duas horas mais tarde, desceu em seu ponto final, em frente ao velório da Paz. Ficou ali, parado, olhando para a porta que descascava tinta branca, revelando a madeira levemente apodrecida.

Adentrou as paredes amarelas que formavam o corredor. As salas por quais passava, transbordavam dor e angústia. Assim como ele. De certa forma, a “transbordância” dos outros fazia com que sentisse melhor. Parou. Estava em frente a uma placa que indicavaa sala G. Subiu o nó da gravata, engoliu o nó na garganta e entrou. Chorou ao ver sua mãe, pálida como nunca fora.