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quinta-feira, 18 de setembro de 2014

E a saliva voaria!

A vida ia e vinha. Tinha pontos altos e baixos, as vezes tinha os dois ao mesmo tempo. As vezes ela se confundia e achava que estava em um ponto alto e depois de um tempo percebia que na realidade era um buraco com uma iluminação decente.

Há uns dias ela estava pensando em chegar para um ser humano e dizer algumas das coisas tinha como verdades, dizer o que pensava, como se sentia e essas coisas que as vezes é bom tirar do peito.

Ai ela parou e se perguntou: que direito ela tinha? Ninguém havia perguntado. Sempre tivera esse conceito de tentar calar-se quando ninguém a perguntava. No entanto, tinha coisas que precisavam ser ditas, porque, quando caladas, apodrecem as pessoas por dentro. Guardar mágoas vai corroendo, e desequilibrando o emocional, faz as pessoas passarem mal, solta o intestino, faz comer, roer a unha...Essas coisas que todo mundo sente, mas ninguém admite.

Ela queria gritar. Bem perto da cara do indivíduo, para que sua saliva voasse de sua boca e aterrizasse na testa dele, nos cílios. Afogaria o infeliz em palavras e em baba. Mas ela se convencia que era maior que isso, que teoricamente era equilibrada, ou pelo menos deveria ser. E então admitiu: Sou nada.

Não era evoluída. Queria jogar a merda no ventilador e ofender aquele ser humano como nunca ofendera ninguém. Falar tudo o que sentia até o ponto em que os bisnetos dele tivessem gastrite e não soubessem o porquê.

FILHO-DA-PUTA! e a saliva voaria! ESCROTO DE MERDA! E o cabelo dele se moveria para trás pelas ondas sonoras! MENTIROSO TRAIÇOEIRO DO CARALHO! E ela poderia ver as gotinhas com o seu DNA dançando testa abaixo, até atingir os cílios, e se tudo desse certo uma delas acertaria o olho.

Mas de que que adiantaria? Pra ele nada, só perderia o rumo por alguns segundos. Pra ela? Tiraria do peito e jogaria pro mundo. E seu desprezo se misturaria com felicidade, raiva, tranquilidade e todas as outras energias que as pessoas exalam. E depois de um mês o cara viraria mais uma história de boteco, mais um infeliz que tinha enganando 28 trouxas.

Engraçado é que a impressão que ela tinha sobre ela mesma é que na realidade 'trouxa' eram os outros. Que ela pelo menos sabia a realidade, com ela o jogo era aberto. Ela confiava que tinha sido clara no pedido de sinceridade, por mais absurda que a mesma fosse. E ainda assim, contra todos os sentidos lógicos, o imbecil usou com ela todas as cartas batidas e repetidas que qualquer pessoa que tivesse visto uma comédia romântica com um vilão escroto saberia identificar. Primeiro veio o 'eu estou mal psicológico', em seguida o 'eu estou mal físico', na sequência o 'Eu trabalho demais' e quando nenhuma dessas funcionou veio a 'tempestade de elogios'.

E então, quando a paciência esvaiu, a inconformidade chegou. E, com o passar do tempo, o cara que parecia legal viraria mais um nada. Um ser insignificante no meio da multidão, e em pouco tempo ela não lembraria ao certo qual foi a história e depois teria aquela sensação de 'conheço, sei que é escroto, não lembro o porquê'. Sua memória era seletiva, ou pelo menos deveria ser.