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domingo, 15 de maio de 2011

A cadeira

Sentado na poltrona, observava o tempo que corria pela cadeira da mesa.

De madeira com cascas pulando pelas costas e cheia. Cheia de histórias, de música, de memórias. A cadeira cheirava à saudade e fazia o peito doer. Junto com o peito doía a retina. Não saiam lágrimas, por isso que doía. Sem planos para ir embora, era remanescente e muito bem acomodada. A dor morava ali. Se aconchegara em algum lugar intransponível e só dava a graça de vez em quando, de vez em sempre.

Não era o tipo de dor que impede felicidade, É do tipo que visita, e aí dói a retina. Como já foi dito. Ele estava ali, Ouvindo a música que escapava da cadeira, o som da voz, do batuque, das risadas. Era o tiquetaquear dos anos, o som de vida interrompida pela morte.

As histórias que escorriam pelas pernas roliças de madeira velha, contavam sobre crianças sentadas ao redor de seus pés, estonteadas com as maravilhas que os lábios ali sentados gostavam de narrar.

As mãos, também na cadeira, voavam pelos ares buscando expressões. A história não se continha naquelas paredes, a história transcêndia a casa, a cidade, a terra. Foram vividas em outros tempos. Tempos com mágica, criaturas e parceiros para sempre. Tempos que a cada janeiro, se distanciavam milhares e milhares de anos.

Os lábios se foram, junto com as mãos e com a magia, e naquele canto restou a cadeira, e dentro dela, a saudade.

5 comentários:

  1. Mesmo que influenciado pela recente playlist,tuas palavras me lembraram "Naquela Mesa" de Nelson Gonçalves,e não só por isso gostei,foi também por causa das danças que as palavras fazem nesse escrito em especial e porque senti um pouco de poesia,enfim,belo.

    abraço !

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  2. exatamente essa música. Exatamente!

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  3. Como eu disse, não sabia como comentar. Então desculpa se sair um comentário besta, ou sem sentido. To simplesmente me deixando escrever.
    Não vi sua playlist, mas a música do Nelson Gonçalves me veio à cabeça tbm, e com ela, como sempre, meus avós. Mais que meus avós, a casa da minha vó em Clementina...intacta, parada no tempo, cheia de lembranças. Adoro a casa da minha vó, mas quando vou pra lá evito pensar em como a casa era feliz há alguns anos. Essa é minha sensação, A CASA era feliz. Agora é triste. Fico feliz de ir pra lá por causa da família, mas os móveis antigos, a cadeira em que meu vô sentava pra tomar café e ler um livro, o sofá da minha vó...essas coisas só me mostram que a vida simplesmente acaba. Como se já não fosse duro lidar com essa realidade, sobram os móveis, os cheiros, os resquícios de uma vida que deixou de ser.

    Lindo texto. Triste. Doído.
    Pena já ter me sentido como quem olha pra cadeira.
    Pena mesmo.

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