Quer ler o que?

domingo, 2 de dezembro de 2012

Amanhã isso passa

Não consigo dormir.

Já virei para um lado, para o outro, e nada. Estou agora de barriga pra baixo, pra não ter que encarar o teto.

Me cubro e sinto calor, descubro e sinto frio. Meu travesseiro não está aconchegante, meu colchão me parece duro e minha cabeça está cheia de coisas que eu não sei descrever.

Minha companheira de casa fica vagando pela casa tentando suar suas saudades, a outra fechou a porta do quarto para tentar construir histórias. E eu aqui, no meio do caminho sem saber explicar porque que o sono não vem.

Os bocejos me fazem companhia, e as lágrimas também. Não é nada triste, eu só costumo lacrimejar quando estou cansada.

Acho que é isso, estou cansada.

Cansada dessa batalha diária, cansada de me esforçar pra ser oca, pra não sentir as coisas.

Cansada de acordar com ressaca moral, e não ler o material que eu preciso. Cansada de não adiantar minhas matérias na faculdade, de deixar tudo pra última hora.

Cansada de saber que não vou passar dezembro em casa, de saber que não estou acompanhando minha prima crescer.

Cansada de dizer pras pessoas tudo o que eu preciso fazer, e no fim do dia não ter produzido nada.

Cansada dos outros que ao invés de escreverem a própria história passam as tardes falando da minha, se achando no direito de me dizer o que é certo e o que é errado.

Acho que é isso, estou cansada.

Mas amanhã tudo isso passa. E pra amanhã chegar, eu preciso dormir.

Incompreensão

Li um texto sobre a solidão, sobre o nosso medo de estarmos sós. Nosso esforço constante para estarmos acompanhados, ou sozinhos porém não solitários. Conviver consigo é sempre um desafio, é o momento em que conseguimos descobrir a nós mesmos.

Talvez o medo não seja da solidão, e sim do barulho que a mente faz quando estamos em silêncio.

A solidão é incompreendida.

É ela que nos faz companhia quando ninguém mais a faz. Talvez ela seja nossa maior companheira. A única que nos acompanha nos momentos bons e ruins. Somos sempre companhia a nós mesmos. Somos sempre solidão.

É sempre bom lembrar que onde quer que a gente vá, a gente se leva junto.

Se arrumarmos nossas mochilas e seguirmos em direção ao fim do mundo, junto com nossas roupas, levaremos nossas dores, amores e frustrações. Levaremos nossas verdades, tão absolutas quanto nossas concepções inconstantes. Levaremos a solidão, nossa eterna companheira.

Companhia nada mais é do que várias solidões juntas. A gente é que luta pra tentar achar características semelhantes a daquelas pessoas que convivemos. Querendo ou não, acreditamos que precisamos do outro para ser feliz.

Lembrem-se: O medo não é da solidão. O medo é de nós mesmos.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Ao infinito e além

É bom te ver.

Te falar oi e só. Saber que está bem, está vivo, que ainda sorri.

Fiquei sorrindo por alguns minutos quando fui embora. Um sorriso aliviado, um sorriso leve.

Gosto muito de você, mais do que você imagina, e não menos do que eu deveria. Não é um peso, não é um fardo, e de todas as memórias eu só me lembro das boas. As nem tão boas assim hoje tomam um ar de graça, e quando me veem a mente, rio das besteiras que nos levaram até as más histórias bem vividas.

Não me entenda mal, não te quero de volta, nem acho que você seja o homem da minha vida. Mas, mesmo sem querer, você se tornou um marco, integrou uma época muito boa e bem aproveitada.

Quero te encontrar muitas vezes ainda, nem que seja que nem hoje, um oi, um abraço mal dado e uma despedida breve.

Por alguma razão, me faz bem te ver feliz.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Intertexto

Ontem eu cantarolava que se amanhã não fosse nada disso caberia a mim esquecer, e o que ganhasse e o que perdesse ninguém precisaria saber.

Não era nada daquilo.

Eu sei que ninguém precisa saber, mas eu não me contento, preciso contar pra todo mundo ouvir. Ganhei aprendizado, experiências, uma pessoa sensacional que passou pela minha vida, agora ganhei liberdade, serenidade e percepção. Ganhei certezas, e dúvidas, ganhei dias bons, abraços confortáveis e cervejas em boa companhia. Ganhei conhecimento e algumas tristezas.

Perdi uma possibilidade, um prospecto e uma vontade. Perdi tempo, dedicação e bom humor. Perdi disposição e a paciência. Perdi futuras boas caminhadas, futuras cervejas geladas e futuras novidades diárias. Acho que perdi um amigo.

Achava bonito ser abstrato, e achava que verdade era fugaz, era uma idéia que existia na cabeça e não tinha a menor obrigação de acontecer.

Não aconteceu.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Em homenagem a minha grande certeza

Durma meu bem. E sonhe! Sonhar com o que? Com o que você mais quer no momento. Não vai me ajudar.. só me iludir. E de repente a conversa acabou. ninguém tinha mais nada a dizer, e ambos sabiam quais eram seus sonhos. Os sonhos dos dois. Sabiam do desejo de não ficar na vontade, do desejo de ter coragem, de bater na porta daqueles que sabiam quem eram e dizer o que estavam pensando. Os dois viviam assim, reprimindo suas palavras, se engasgando na vontade de dizer. Eram iguais. Talvez por isso se amassem tanto.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Me dá um abraço?

Não quero tirar minha responsabilidade. Eu errei. Nem sei se você sabe, mas errei. Não queria, juro que não queria. Eu fico esperando você aparecer, dou chances pro acaso. O acaso não aceita minha ajuda. Acho que você não quer mais, ou também não sabe. Eu não sei.

Queria voltar no tempo, fazer diferente, ir embora mais cedo, fingir que estava tudo bem. Mas o tempo só anda pra frente.

Tem algo, que não sei dizer o que, que me diz que seria bom, que me diz que foi alguma coisa. Tem outra coisa também que me diz que foi tudo na minha cabeça, na minha ilusão.

Quer matar nossos dragões? Elucidar nossos problemas? Nossas vontades? Eu toparia.

E se a gente decidir que não existe mais, que não existiu, que já acabou, me da um abraço?

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Meu chão


Meu cabelo está sujo, eu preciso cortar a unha, eu estou usando um moletom masculino, que não é meu. Nos meus pés, eu uso o mesmo sapato há semanas, acabaram minhas roupas limpas.

Minha vida está em caixas, não consigo achar meu material da faculdade que está dentro de algum papelão. Só como comida de microondas ou em algum restaurante há semanas. Estou com saudades de cozinhar.

Meu cigarro acabou, meu dinheiro também. Não tenho móveis, não tenho guarda-roupa, nem geladeira, nem fogão. A cama em que eu durmo não é minha, o banheiro em que eu tomo banho não é meu.

Tenho me sentido sem chão, sem canto, sem poder criar raízes. Meu futuro quarto ainda não tem paredes, me sinto sem propriedades. O papel que eu estou escrevendo o rascunho desse texto não saiu do meu caderno, até a caneta é emprestada.

Não consigo achar meu shorts sem elástico que eu gosto de usar quando estou sozinha. Esses dias descobri que minha vida cabe em um uno.

Tem sido uma época de turbulências, algumas coisas ajudam, outras ajudavam e também se perderam em meio a tempestade. A única certeza que eu tenho está a mais de mil quilômetros de distância, e nem perto da linha de possibilidades do meu futuro próximo.

Eu tenho amigos. Grandes amigos. Sou infinitamente grata por eles.

Mas, no momento, estou sem chão, sem casa. Não tenho filosofias sobre isso, nem grandes conclusões. Só um vazio, e uma vontade imensurável de ter algo meu para chegar.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Morangos

Cansei de morangos. Morangos não são a única coisa na face da terra, existem bananas, peras, uvas, laranjas... Eu não preciso de morangos.

Morangos só dão dor de cabeça. É um problema atrás do outro. Quando eu como morangos, fico sempre pensando se os morangos querem estar na minha geladeira, se os morangos deves ser resfriados ou deixados na temperatura ambiente. Se os morangos tem todos os nutrientes que eu preciso, quantas calorias eu vou engordar com aqueles morangos.

Chega. Não quero mais morangos. Quando eu decido comer morangos, e me entregar nessa comilança, sempre esqueço de lavar a louça, fazer trabalhos, levantar os pés na hora de subir os degraus... Morangos me tiram o foco, me deixam preocupada com quantas mordidas eu tenho que dar neles, se eu estou comendo rápido demais, se eu estou comendo rápido de menos.

Parece que eu tenho um poster de morango na minha parede? Ou estou tratando os morangos com muito descaso? Eu gosto de morango, mas queria comer o morango e pronto. Curtir o sabor do morango, a acidez, misturada com a doçura. Sentir a textura do morango, o gosto de morango na boca. Mascar um chiclete e lembrar do sabor do morango, sem me preocupar com o que o morango vai achar.

Nada demais, queria curtir o morango, saber se o morango quer ser curtido, sem ter que pensar na temperatura ideal pra manter o frescor do morango. Eu sei que quem se preocupa com o morango sou eu, o morango só está lá, na geladeira, ou no arranjo no centro da mesa. Mas eu queria saber como o morango se sente, se ele queria estar do lado de uma cereja, ou se ali mesmo está bom.

Morangos deveriam vir com plaquinhas, deveria ser possível olhar pro morango e saber se aquele morango é bom, ou ver pelo peso que nem em maracujá, ou dar tres batidinhas, que nem em melancia. Mas morango é difícil julgar sem por na boca.
Eu tenho a impressão de que os morangos são só morangos morangando por ai.
Eu adoro morangos.

sábado, 15 de setembro de 2012

Epidemia

Começa devagar, é quase imperceptível. Eles talvez nasçam por geração espontânea, ou talvez a gente já nasça com os ovos incubados. Não sei se todos tem esse tipo de ser, mas a maioria de nós ja nascemos com eles.

Se proliferam sorrateiros, e quando nos damos por conta, é irreversível. Eles são tipos de vermes, que se alimentam de suposições. Eles crescem pouco a pouco, assim como os mamíferos, não existe troca de quitina, eles vão crescendo e chegam ao ápice de suas vidas gordos. Cheios de idéias e suposições digeridas.

Se rastejam pelo nosso cérebro, contaminando todos os prospecto de felicidade. Desencubam quando lhes convêm. Normalmente em época de dúvidas e inseguranças. Não ajudam, só atrapalham. Causam problemas de saúde e não têm cura. É viral.

Esses pequenos bichos vivem nas entranhas, nos meandro dos nossos pensamentos, tem hábitos noturnos, normalmente nos horários antes de dormir. Os sintomas são dúvida, insegurança, e paranóia. Em alguns casos levam o contaminado a chorar aparentemente sem razão, em casos mais sérios, resultam em palavras sem sentido que podem ser expressadas através de mensagens de texto, telefonemas, emails e já existiu casos de pacientes que se manifestaram através de redes sociais. Provocam indiretas descomunais.

Como sabemos se eles vão agir? Alguns hábitos podem indicar o desenvolvimento desses vírus, como por exemplo ouvir música lenta com temática romântica, com letras de decepção amorosa, ou frustrações com a vida. O silencio do possível infectado também é um indicativo. Outra forma de sintoma é a redundância de um mesmo assunto, ou o destrinchar de momentos vivenciados, que na realidade não significam nada demais. Essa análise repetitiva de um mesmo evento é um estágio mais sério, precisando assim buscar ajuda médica. Esse auxílio médico pode ser substítuido por um pote de dois litros de sorvete de flocos ou uma barra de chocolate.

Fique atento, esse vírus pode infectar qualquer um e a forma de contaminação ainda é desconhecida. Caso tenha se identificado com qualquer uma das descrições acima, procure um ombro amigo que tenha paciencia para te escutar. O melhor a fazer quando infectado é esperar o sintoma passar. Alguns pacientes mantém esse vírus por meses, outros só por uma noite.

Lembre-se, a primeira medida para superar a crise é procurar um amigo.

Observações: Álcool pode ajudar, contanto que não em excesso. O excesso pode provocar uma ressaca física e moral.

domingo, 9 de setembro de 2012

O cristal

Puxou-a pelo braço, fincando os dedos sujos de terra, em seu cotovelo. Em um assalto arremessou-a através da sala. Ela voou. Como que por inércia, se deslocou destruindo os móveis pelo caminho até atingir a estante que derrubou todos os livros e bibêlos pelo impacto. Caiu sentada.

Viu um abajur se aproximando, em direção ao seu rosto e jogou o torso para a direita. Estava frágil, vulnerável e sentia um fio quente escorrer pelo nariz. Sentiu o gosto do próprio sangue que entrava pela boca e se espalhava pelos dentes.

Olhou para cima e viu o sol ser encoberto por braços grandes ao lado de costas largas. Ela estava nas sombras. Ele a levantou pelos ombros, com a mesma facilidade que uma mãe levanta um bebê, e deixou-a despencar no sofá azul royal. Ela afundou, tentando atravessar pelas almofadas. Não conseguiu. Ela ainda estava lá.

Ele abriu um botão e com uma mão abaixou o zíper, enquanto com a outra segurava-a pelo queixo, apertando suas bochechas. Ela soçobrava balbuciando por favores que se perdiam em meio a tantos vasos quebrados. Ela se rendeu. Deixou a cabeça cair pelo braço do sofá e aceitou seu destino.

Ela encarava um adorno de cristal, quase podia ver ser reflexo. Passou os olhos pela base heptagonal do arranjo. Era uma peça pontiaguda, que formaca uma espécie de cone. Como a ponta de uma lança. Uma lança. Lança.

Moveu quase que imperceptívelmente o braço em direção à mesa de canto. O braço sacudia em movimentos repetidos que partiam do corpo em cima dela. Ela segurou a peça, como quem segura um punhal, deixou o braço cair, passando o objeto por baixo da saia do sofá. Suas mãos seguravam o cristal com tanta determinação que ela podia sentir as impressões da peça.

Num movimento furtivo, viu o braço fazer um movimento arqueado e instintivo, deixando a peça aterrisar com a ponta fincada na nuca do homem. O movimento parou, e ela sentiu o peso do corpo despencar sobre ela. Podia sentir o calor do sangue, que ainda jorrava, nas mãos. Viu escorrer as hemoglobinas pelos dois lados do pescoço, formando uma gargantilha em que o pingente escorria no peito dela.

Sentia a adrenalina pelo corpo, e soltou vagarosamente a peça de cristal, empurrou o corpo sofá a baixo, se levantou desviando as pernas mortificadas, e tremendo foi até a pia da cozinha, lavou as mãos em desespero, pegou as luvas de borracha, vestiu o sobretudo que estava em cima da mesa, abotoou até o pescoço cobrindo todas as marcas vermelhas do corpo nu e saiu. Vestia as luvas de borracha e os pés descalços. Deixou no apartamento as roupas e a integridade. Nunca contou pra ninguém.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Panamá

Chegou no café e se deparou com duas estátuas de gesso penduradas na parede. Os anjos olhavam em direções opostas, um zelando a porta e todos que por ali entravam, e outro zelando as xícaras fumegantes de todos os clientes.

Uma das paredes, a rosada, era oposta a uma cortina de fios de miçangas e borboletas que cobria uma parede branca.

Se sentou em um banco almofadado, em frente a uma mesa de três pernas e pôs-se a esperar. Se sentou desleixada, apoiando os pés na parte inferior da mesa, e começou a mordiscar os lábios copiosamente.

Algumas pessoas entraram, outras saíram, e inúmeras xícaras de café fumegaram. Divagando em pensamentos, se deu conta que estava em um café. Os cafés eram os berços dos personagens intrigantes, cheios de mistério, era o ponto de partida dos escritores solitários, das inspirações. Foram em cafés desconhecidos que nasceram grandes clássicos, que nasceram amores, que morreram personagens. Naquele café poderiam ter surgido assassinatos, poesias, aventuras. Muitas mágoas podiam ter sido afogadas em uma daquelas xícaras com asa de porcelana. E ela alí, mordiscando os lábios.

Endireitou a coluna, e tentou fazer um olhar profundo, com ar de quem filosofa sobre a vida. Devia ter ido de chapéu panamá. Uma hora depois, e ela ainda estava lá esperando. Já tinha lido os poemas das paredes, analisado os bolinhos do balcão, decorado os sabores de chicletes no baleiro... Seu olhar misterioso já tinha derretido, e ela podia jurar que a flor amarela dentro da garrafa no centro da mesa tinha murchado levemente.

Não tinha tido nenhuma epifania criativa, a coluna já estava torta. Não sabia o porquê. Se levantou, agradeceu a garçonete e saiu apressadamente, como se tivesse tido uma grande idéia ou tomado uma grande decisão. E ela tinha. Iria comprar um chapéu panamá.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Modernismo

Era a terceira. em menos de quatro meses após o término, essa era a terceira namorada. Significava muito. Significava que os erros não eram só dela. Quem estragava três relacionamentos em menos de quatro meses, não podia ser perfeito. Ele dizia que o primeiro foi de raiva do término com ela, e o segundo nunca foi explicado, não que ele devesse explicações, afinal ela que terminara tudo quatro meses antes.

Ela já tinha dito que o término fora um erro, que tinha se arrependido, e ele disse que estava com saudades, que queria conversar. Ficou combinado que conversariam quando ela voltasse pra cidade, pelo menos foi o que ela entendeu, mas em menos de três semanas, ele já estava anunciando publicamente que tinha outra.

Ela era fiel. Era fiel a si mesma, fiel ao que sentia e o que tinha dito sobre querer conversar, querer encontrar, querer ver, tocar, beijar. Ela sempre foi honesta. Só não tinha a certeza de que ele também fora. A terceira foi a gota d'água. Quem é sincero sobre a saudade não arranja outra com tanta eficiência.

Ela tinha uma filosofia, de que se um dia fosse ficar com alguém seria por mútua vontade. Não queria ter que se esforçar incessantemente para provar que estar com ela era o suficiente. Queria alguém que soubesse disso, e que não estivesse sempre a beira de cair em tentação. No entanto, queria que ele soubesse disso. E não outro qualquer.

Não tinha mais conversa, não tinha mais nada a ser dito. Só restava a ser sentido. Arrumou suas coisas e decidiu que voltaria a cidade. Mas minutos antes de avisá-lo que estaria de volta, viu que agora existia a a terceira. Olhou na tela do computador e só conseguia ver que agora tinha mais uma. Sentiu um calor, uma raiva que se espalhava partindo do estômago. Uma raiva não dele, uma auto-depreciação. Como pudera não perceber os sinais que ele sempre emitia de que ela também era mais uma, ela fora a terceira para outra.

Ela não era especial, e tudo aquilo que ela achou que fosse só existiu na impressão. Ele era um homem, como outro qualquer, que procurava alguma qualquer, que não importava se era ela, ou as outras três. Ela fazia parte do montante.

Fazia parte do montante. Do mon-tan-te. A realização disso, fez o vidro se quebrar. A ilusão havia se partido. E por mais que aceitasse, que nada nunca fora tão especial quanto tinha acreditado, tudo que queria era que ele viesse e juntasse os cacos estilhaçados e começasse a colar. Pedaço a pedaço, transformando-os em uma obra de arte. Um picasso, que mesmo torto, e mesmo com rachaduras de tinta, se mostrava completo e pronto para ser exposto, visto e apreciado. Queria pra vida um romance modernista. Queria ser 'A boba'. Sem ser tripudiada. Queria ter um ‘homem amarelo’, com um toque de azul. Queria ser 'Guernica', porque onde existe guerra existe amor. Queria ter arte.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

O vácuo

Minha irmã costuma dizer que tem medo quando eu fico muito tempo em silêncio. Ela diz que queria estar na minha cabeça, pra entender meus pensamentos. Na realidade, tem horas que nem eu queria saber o que eu estou pensando.

Me desliguei do mundo nos últimos dias, me dediquei a assistir séries, desenhar, e pensar em quantas colheres de arroz eu vou comer no almoço. Eu tento fugir de questionamentos, e fico fazendo planos pra alcançar uma meta que até agora só existe na minha cabeça.

Tenho uma lista de coisas que eu preciso fazer, e-mails que eu preciso mandar, projetos que eu preciso escrever. Mas como eu disse, há dias que eu me dedico a colher plantas de coração em um joguinho do facebook.

O fazer nada me deu tempo pra pensar em posicionamentos que eu queria ter, quilos que eu queria perder, livros que eu queria ler e a disposição que eu queria ter pra tudo isso.

Acordei me achando feia esses dias, não saí de casa pra não sujeitar ninguém a minha feiúra psicológica. Minha mãe me diz que eu sou linda, prefiro acreditar nela. Preciso fazer a sobrancelha, e tirar o meu esmalte que começou a descascar. Recusei convites pra sair com meus amigos. O único dia em que eu aceitei sair de casa eu acabei mandando mensagens bêbadas pra um amigo as três da manhã. Tirando esse dia, a única pessoa que me viu recentemente veio até a minha casa.

Quão deprimente é isso? Nem um pouco. Estou adorando me sentir a gata borralheira, e não ter que sair na rua pra não cumprimentar ninguém. Eu provavelmente vá cansar disso daqui 3 ou 4 dias, e a realidade vai bater à minha porta. Mas até lá, eu estou feliz com uma mente vazia. E posso assegurar a minha irmã que não tem nada aqui dentro digno de se sentir medo. Aliás eu posso assegurá-la que aqui dentro não tem nada. Nada mesmo.

sábado, 28 de julho de 2012

Redenção

A cidade tremeluz. Os sons dos carros e do mar se unem orquestrados em perfeita sintonia. E uma estátua, de braços abertos, iluminada por holofotes, abençoa a cidade.

As nuvens, bem abaixo de nós, escondem a rotina dos moradores preparando o jantar, e por entre falhas revela a luz das janelas acesas. As pessoas conversam em diversas línguas, dialetos e gírias.

É o maior número de braços abertos por metro quadrado. Risadas flashes e sorrisos de felicidade fotográfica compõem a sacada de pedra acinzentada.

É a mistura de imagem, som e cheiro que se transformam em poesia. Poesia palpável.

O Rio é lindo.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

O céu

Colocou as mãos sob os seios enquanto encarava o teto branco repleto e estrelas de adesivos que brilham no escuro. Tentava controlar a sua respiração, já que na sua vida não controlava mais nada. Sentiu o coração bater. Era o único aspecto que se mantinha compassado. Já era alguma coisa.

O sono não vinha, o cansaço não a abandonava. O corpo doía, a mente também, afinal tirando o romance da biologia, é na cabeça que se sente as coisas.

Seus amigos avisaram: Isso não vai dar certo. Não deu. As coisas fugiram do controle, os sentimentos descarrilharam em uma cruz de Santo André. E os veículos sobre trilhos têm sempre a preferência.

Era feia? Burra? Gorda? Não sabia. As vezes ouvia elogios, e se perguntava quanto e quem teria pago para que fossem ditos. Os amigos e família a contradiziam e repetiam: O problema não é você, é um idiota, ele não te merece. Mas eles eram amigos e familiares, a função deles era achá-la ótima.

Uma das próximas até desenvolveu uma teoria: Você sabe onde está, de onde veio e pra onde vai, isso inibe as pessoas. Era uma boa teoria, mas ela não sabia como mudar essa postura porque realmente sabia, ou achava que sabia essas três coisas.

A taróloga há muito tempo disse que o amor de sua vida ainda iria aparecer, e seria ar-re-ba-ta-dor. Cadê? Falou até em casar na igreja de véu e grinalda. Eu? A Idea até encantou, mas NE sinal. Tarólogos sempre erram. Essa até tinha acertado algumas coisas... pensamentos íntimos que ela nunca disse a ninguém.

Começou a contar as estrelas de plástico no ritmo das batidas. Não sabia se o coração estava acelerado ou se ele era sempre nesse ritmo e ela não tinha percebido. Pelo menos estava viva. Sentimentos não matam. Não literalmente, metaforicamente é outra história.

Vai passar. Esse projeto de profecia foi unânime. Vai? Quando? Não conseguia dormir, precisava escrever. Se levantou da cama em um pulo, vestiu pijamas, ela dorme pelada, subiu os degraus de madeira até o escritório, pegou um sulfite A4, 90 gramas, uma caneta bic e começou:

“Colocou as mãos sob os seios enquanto encarava o teto branco repleto e estrelas de adesivos que brilham no escuro.”

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Independência ou morte

Estava conversando com o meu pai, sobre mais um dos meus questionamentos, e disse: Eu nasci na geração errada, pus me a explicar o porque.

Nós, nascidos pelos arredores dos anos noventa, fomos criados para sermos independentes. Fazemos parte de uma geração de auto-suficientes, que tem à mão todos os tipos de aparelhos e informações. Temos autonomia, temos velocidade, somos uma geração drive-thru, geração de pronta entrega.

Temos carros pré-moldados, e opiniões também.

Somos os pós-reacionários, temos a rebeldia e não achamos a causa. Temos a internet e movimentações políticas cibernéticas. Somos protestantes sentados.

Ganhamos tudo pronto, com manual de instrução em linguagem simplificada. Vivemos de atalhos e Ctrl+C, Ctrl+V. Temos nossos carros parcelados em 48 vezes, computadores em um celular, temos tudo de mão beijada pela eficiência.

Somos a geração do foda-se, do relaxa que depois da certo. A geração dos acomodados que não perdem nada. E, vivemos em uma sociedade em que inteligentes são aqueles que ganham sem esforço, onde o dinheiro vale mais do que o trabalho.

Temos tudo, temos rápido e temos agora.

Não só no material, somos expressos em nossos relacionamentos, aprendemos que quando algo quebra é preciso jogar fora. Inclusive nossos amores.

Somos a geração micareta, a geração não lembro se eu beijei. Nada mais nos prende, nem dinheiro, nem casamento, nem necessidade. Temos tudo ali, e no entanto não temos nada.

Nossos namoros duram quinze dias, as vezes eles nem acontecem. Nossas amizades duram o período letivo, somente a festa dura pra sempre.

Falei por horas sobre isso, sobre essa geração que jogava cobrinha escondido no celular da mãe. Sobre nós que vimos a tela do celular ganhar cor e virar touch, e ele me disse:

- Filha, você está errada. Nessa geração de independência, uma coisa nos prende, e só ela, porque o resto nós conseguimos sozinhos. Sabe o que é?

- Não pai, não sei.

- É a palavra que você tanto evita porque pensa que é clichê.

-O amor?

- É, o amor. Na sua geração, você sabe que quando suas amizades durarem anos, existe amor, quando seu relacionamento perdurar, existe amor, quando alguns objetos forem guardados pela história ou por carinho, existe amor. Filha, vocês serão os primeiros a viver juntos por essência. Os primeiros a se casarem por amor, não por tradição, nem por obrigação ou circunstância.

Parei de transcrever a minha história aqui. Passei três dias relendo o que tinha escrito, e tentando acreditar nas palavras do meu pai. Estou tentando me convencer até agora. Meu pai tem 50 anos, eu tenho 19, ele provavelmente entende mais da vida do que eu. Ele deve ter razão. Eu queria que ele tivesse. Pra saber que em meio a tantas desventuras ainda existe algo. Qualquer algo que não seja só vazio, algo que signifique e que preencha. Um motivo pra tudo isso. Vou esperar 30anos, depois eu analiso.

domingo, 13 de maio de 2012

Minha sorte

Hoje é dia das mães, e eu estou longe da minha. A faculdade não me permitiu ir pra casa, e então eu fiquei. Falei com toda a família pelo telefone, obrigada tecnologia, mas não é a mesma coisa e eu estou com saudades de todos.


Eu queria agradecer, à minha mãe, aos meus pais, por terem me incentivado, e acreditado em todas as minhas vontades loucas, meus sonhos mirabolantes. Agradecer por terem confiado em mim quando eu disse que ir pra África do Sul seria uma boa idéia, quando eu disse que queria tocar violão, mesmo sem ter o menor dom musical, quando eu desenhava nas aulas de matemática e eles apreciavam o desenho ao invés de questionar o porque eu não estava prestando a atenção na aula, por ter não só incentivado, mas também arcado com as despesas, quando eu disse que queria estudar artes como graduação em uma cidade a mais de 1000km de distância.

Queria agradecê-los por nunca dizerem que eu vou morrer pobre por querer ser artista.

Queria também agradecer a minha irmã, que muitas vezes representou um papel de mãe, me levando, me buscando, me defendendo e ouvindo minhas crises que não foram poucas.

Agradecer a minha avó que cuidou de mim na minha infância, e me ensinou que se a gente não aprendesse a dividir o controle da TV ela iria quebrar o controle em uma porrada só. Como já aconteceu. E por ter tido paciência, eu não fui uma criança fácil.

Queria agradecer minha mãe, mais uma vez e interminavelmente, por toda a energia depositada em mim, todo o investimento e todas as vezes que quando eu disse que não sabia o que queria fazer da vida, ela me respondeu: Pelo menos você sabe o que não quer.

Agradecer ao meu pai, por ter me ensinado a sobreviver no meio do mato, a montar um forno de barro, a jogar gamão e dirigir.

Agradecer a ambos, pela liberdade que me foi dada desde o princípio, e por ter me ensinado a andar de ônibus com 11 anos. Agradecer meu pai por ter forçado a mim e a minha irmã a ir andando sozinha pra aula. E agradecer por ele ter seguido a gente todos os dias, pra ter certeza que a gente ia chegar bem.

A todos vocês, que um dia já foram ‘mães’ em minha vida, um sincero e eloquente obrigada. Tenho por vocês uma apreciação enorme, e uma sorte maior ainda por nunca ter ficado desamparada.

Queria estar perto hoje, eu não diria tudo isso pessoalmente, porque eu não sou do tipo que admite, mas saibam, vocês são fundamentais na minha vida.

Com muito amor, Jullia

domingo, 6 de maio de 2012

Sem pé, sem cabeça e sem amor

Tem gente que diz que é carma, eu inclusive. Mas digamos que meus relacionamentos amorosos não tenham sido meus maiores sucessos ou conquistas.

Sou de sagitário. Sim, acredito nessas bobagens.

Me apaixono fácil, e desapaixono também. Não sei se já amei alguém.

Tenho suspeitas, mas só vou saber se foi amor quando eu amar alguém de novo. Ou quando amar alguém pela primeira vez.

Sou secretamente romântica, e apesar de não mandar corações na internet, nem chamar aos outros de linduxos, eu gosto de receber flores. Gosto que alguém abra a porta pra mim, e gosto de fazer um sanduiche caso o romance da vez esteja com fome.

Considere seu sanduíche uma prova de amor.

Gosto de conversar, sobre Friends e Almodóvar. Sobre Turma da Mônica e Rousseau. Não sei ficar em silêncio. As vezes me calo, mas a mente continua, e o silêncio é apenas externo.

Sei andar sozinha, sei manejar uma faca, sei socar pomo de Adão.

Sei me virar sozinha, mas as vezes prefiro ter alguem pra me acompanhar, defender e todas essa coisas anti-feministas.

Não sou feminista. Gosto de gentilezas, e que puxem a cadeira pra mim.

Queria gostar de alguém. De preferência que gostasse de mim de volta.

Faz um tempo que meu raciocínio atropela meus sentimentos e eu acabo com as coisas antes de elas se tornarem reais. Ou mais reais.

Não sei exatamente o propósito desse texto, dessas palavras, mas eu preciso desabafar e o teclado não me interrompe pra ver se eu quero pipoca. Ele me escuta. Escuta meus dedos. Já é alguma coisa.

Me pego pensando se algum dia vou deixar a segunda opção. Não para ser a primeira, mas pra ser a única. Minha mãe me disse que leva tempo. Pra ela levou 43 anos. Segundo ela.

Queria sentir o sentimento de só querer um. De só existir um. Mas meus pensamentos divagam por dois, as vezes três, um deles sempre se repete, mas isso é história pra outro dia.

Queria me apaixonar, e sentir borboletas no estômago, teve uma época que eu sentia. A história acabou tão mal que as borboletas foram corroídas pelo meu ácido estomacal.

Talvez minha missão na terra seja curar o coração das pessoas. Elas ficam comigo e logo começam a namorar. Outra, que não sou eu.

Vou começar a vender meus serviços, já tenho 8 clientes satisfeitos. Acho que é carma, macumba, não sei. Mas funciona. O serviço vai custar 50 reais por cada vez que eu pensar em você, com um desconto de 10 reais a cada vez que você pensar em mim. Vou elaborar melhor meu plano de venda e negócios.

Eu queria não ter que me preocupar em ser interessante, queria ser interessante sem esforço, do mesmo jeito que a gente faz com amigos. Amigos eu tenho. Serve?

Não.

Nada contra meus amigos, adoro meus amigos, as vezes até fico com meus amigos. Mas não, queria algo diferente. Algo maior que eu, existe ou é tudo invenção de Hollywood?

As pessoas realmente se apaixonam ou elas se acomodam e se convencem que elas estão living the dream? Existe amor? Amor com ‘a’ maiúsculo?

Ou o amor é um tipo de pé grande, que todo mundo sabe como se parece, descreve conta histórias, sabe onde ele mora, mas na verdade nunca viu?

Esse texto não faz mais sentido, mas o que é que tem? A vida também não faz.