Quer ler o que?

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Alfredo.

Alfredo, o cachorro, vinha pulando em círculos de felicidade. A língua para fora que respingava saliva pelos móveis da sala, lambia qualquer parte do corpo que estivesse exposta. Alfredo adorava orelhas.
via Alfredo com o traseiro arrebitado e o rabo balançando em posição de ataque, esperando que o dono passasse o meio fio.Era botar um pe na calcada e Alfredo atacava. Lambia o rosto do dono sem excrupulos ou planejamento. O dono tirava os oculos encharcados de saliva e tentava limpar no rodape da camiseta.
Alfredo morreu. HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA nao, nao morreu.
Eu ‘e que nao consigo mais desenvolver historias.nao organizo o pensamento. Nao nada. Eu estou com saudade, eu quero ir pra minha casa e quero fugir dos meus problemas aqui e a forma mais eficiente foi matando o Alfredo.
Pronto.


ps: Amanha provavelmente eu va querer ficar aqui. Mas hoje eu estou com saudades.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Hoje

Sento e tento compor uma linha, uma história. Nada me satisfaz. As palavras me fogem, os sinônimos me escapam. A poesia não existe. Então me ocorre a possibilidade das minhas palavras já estarem escritas, minhas frases já estarem formadas e minhas rimas, que não existem, ja estarem rimadas. E se a fonte secou? A nascente morreu? E se o prazer de traduzir em palavras as coisas que penso, que sinto, foi me tirado do mesmo modo que do desespero se tiraria o grito? Hoje me sinto muda.

domingo, 15 de agosto de 2010

Updating

Perdao pela ausencia, estava viajando e ocupada com coisas da escola. Escrevi algumas coisas, mas eu nao gostei do resultado. As palavras me fogem, e eu nao consigo descrever o que eu pretendo. Escrevi uma coisa diferente do normal, uma musica. Esta em ingles, e eu nao vou traduzir. (:

You don’t know and neither do i.
Have a cup of tea, stay for the night.

What else can we do? Maybe try to find out?
Well, I don’t know, have a cup of life.

You knocked on my door, saying you wanted to chat.
Take your feet off the table, put it here on my lap.

What do you wanna do? Watch a movie or so?
One sugar or two? A little bit of milk?

Wouldn’t it be easier if we already knew?
I agree with you, I read this movie review.

You said ‘I love you’, that’s not fair.
Please don’t stop smiling, keep touching my hair.

You cant come here saying ‘I changed my mind’
Stop, you know that tickles, you are making me smile.

With our heads this close I can hear your breathe
You are so warm, time made me forget.

You are holding my face, looking at me in the eye
I can’t move my legs, I feel some butterflies.

Wait. Stop. I must talk to you.
You broke my heart in thousand pieces or two.

I could be nice and let you explain,
But, do you know what? Get out of my face.

You came back, I can’t believe.
Could you please shut the door when you leave?

sábado, 26 de junho de 2010

Cinco Minutos

Levou a chama até a ponta do cigarro, a fumaça entrou pela garganta e preencheu os pulmões tentando amenizar a angústia percorrendo suas veias.

Ela estava morrendo, sentia seus órgãos se decompondo, o câncer era como o vento que consumia seu cigarro de forma mais rápida que os seus pulmões. O cigarro era a vida.

Riu com a ironia e tragou mais uma vez.

O instinto sustentava os olhos marejados, tentando impedir as lágrimas de escapar. As lágrimas, quando escorriam, eram pesadas e despencavam acertando o chão de terra.

Ela queria poder parar o tempo, parar as horas pra descansar. Cinco minutos de intervalo antes de voltar a definhar.

A próxima lágrima estava pronta. Passou o indicador pressionando a pálpebra inferior e roubou a gota salgada para si. Segurou o cigarro na mão oposta e esperou até a lágrima despencar dos dedos e acertar a brasa.

O cigarro apagou e ela sorriu.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Éramos sete.

Pedro foi viajar pra praia pra espairecer, Marina casou e teve dois filhos, Paulo morreu, Renata fugiu de São Paulo, Anderson sumiu com 21, Felipe foi morar na capital e eu fiquei aqui, esperando o Pedro voltar.

sábado, 12 de junho de 2010

Natureza Morta

O sangue escorria pelas luvas e gotejava nos sapatos de veludo. Ela olhava para o corpo com os pés atados no lustre e os cabelos quase tocando o chão. O cadáver nu tinha um corte na garganta e um caminho fresco de lágrimas por entre as sobrancelhas. A boca entre aberta deixava vazar o sangue ainda quente.

Era uma obra de arte. Ela segurou a faca, marcada com as digitais da vítima, apontando pra baixo ao lado da mão dependurada, e deixou cair. Pegou a câmera, tirou duas fotos e escondeu a máquina e as luvas dentro da tábua solta do assoalho. Pegou o telefone, embargou a voz e discou.

- Departamento de Polícia, qual a emergência?
- Su - su... suicídio. – Disse com a voz fingindo desespero.

Nenhuma lágrima escapava dos olhos ainda observando o cadáver.

- Quem é a vítima?
- Minha mãe.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Tomar no cu, viu?

Que que você esperava? Que eu fosse ficar me debulhando em lágrimas pra sempre? Que eu fosse ficar te implorando pra voltar? Tentando te provar errado, tentando te mostrar que podia ter dado certo?
Era só o que me faltava. Ter que te dar satisfação do porque eu não fiquei me remoendo depois que você terminou comigo. Só o que faltava.

Aaaaah, então agora eu sou a pessoa malvada que parou de falar com você. Com certeza, a culpa é minha. Fui eu a filha da puta que não teve coragem de ir contar pra você. Eu que fiz a cagada e não tive coragem de assumir. Ah tá!.

E agora que passaram três meses, você vem com a cara lavada, me perguntando porque a gente não continuou amigo? ‘ A gente pode continuar amigo..’ É a mesma coisa que dizer ‘ Olha, o cachorro morreu, mas a gente pode ficar com ele..’ Agora olha pra minha cara de quem quer o cachorro morto.

Você vem e faz uma pergunta idiota dessas, e depois eu que sou grossa. Eu que sou desequilibrada. Eu que sou a louca que ‘não sabe reagir sem dar escândalo’. Se você acha que isso é escândalo, você não devia levar essa conversa adiante. Porque ai você vai ver escândalo.

Ai, depois dessa conversinha de 'eu tentei fazer a amizade dar certo', tua namorada vem falar comigo me perguntando se tudo bem ela namorar com você. Ai eu respondo: Tudo sim, eu acabei de comer um sanduíche, quer o resto dele também? E eu sou a grossa. Não quer que eu seja grossa, não faça pergunta estúpida.

Tomar no cu, viu?

quarta-feira, 5 de maio de 2010

O garoto

A risada nervosa do garoto preenchia o silêncio da sala do velório. Ele segurava uma xícara suja com vestígios do café feito de manhã. Eram três da tarde.

Os convidados rondavam o corpo estendido no meio da sala. Era seu pai. Dentro do caixão, a maquiagem tentava esconder o roxo causado pela asfixia.

Durante a manhã, o filho pagou o funeral, tratou sobre o seguro de vida, as propriedades e as dívidas deixadas. A cada condolência, ele sorria tímido e dizia: ‘ Tá tudo bem. A gente mal se falava mesmo’.

Quando o garoto tinha 12 anos o pai foi embora, deixou a mulher e as crianças e no batente da porta disse: ‘ Isso é demais pra mim’. Foi morar em um condomínio com outra mulher, sem crianças. Mandava uma pensão todo décimo quinto dia do mês, visitava no Natal, aniversários e ligava no Ano Novo.

A mãe morreu atropelada quando ele tinha 16, o irmão mais velho foi morar na capital, mas ele ficou. Não sabia o porquê, mas ficou.

Quando a mãe morreu, ligou para o pai e disse que precisava conversar. Marcaram de tomar um café, remarcaram três vezes. O pai sempre tinha compromissos. O café durou exatos 27 minutos. No vigésimo oitavo, ele assistiu o homem sair pela porta da padaria, falando no celular.

O garoto olhou para o canto da sala e viu a viúva que derrubou cinco lágrimas durante o discurso do padre. Ela checava o relógio de 3 em 3 minutos. O enterro seria às quatro.

Já eram três e meia. No velório estavam as amigas da viúva, que comentavam sobre o ultimo episódio da novella das oito, o padre, alguns familiares e alguns amigos do filho. O irmão disse que não iria no enterro porque estava trabalhando e não podia perder o prazo do projeto.

Às quatro, enterraram o caixão. A viúva saiu apressada, as amigas seguiram. Os familiares e os amigos seguiram o padre, mas o menino ficou. Sentou no túmulo recém coberto e chorou.

E chorou.

As lágrimas eram constantes, lavavam as bochechas vermelhas de calor. Chorou de saudade do que não tinha sido, de saudade do que podia ser. Chorou pelas boas memórias que não existiam, pelos bons momentos que não tiveram. Lembrou de abraços que não foram dados, de histórias que não foram contadas, de confissões que não foram ouvidas. Chorou. Afinal, sob os seus pés jazia seu pai.

domingo, 11 de abril de 2010

Cecília

Os dedos empurravam a agulha que puxava a linha de costura. O desenho de um urso empurrando uma carriola cheia de corações começava a se formar na tela de ponto cruz.

Ela estava sentada em uma cadeira de balanço ao lado do balcão da cozinha, onde seu marido picava pimentões vermelhos e monologava reclamando sobre sua falta de atenção. Ela estava concentrada se esforçando ao máximo para ignorá-lo. Ponto cruz era uma das duas coisas que a faziam relaxar. Ela entrava em uma espécie de transe que a protegia do mundo externo, e o mundo se protegia dela.

'Você... atenção...'

A voz dele rasgava a paz que ela buscava na linha azul que em breve formaria o macacão do urso.

 'Menina... braço...'

 Ela tentava afastar a voz que agora a culpava pelo acidente da criança.

A filha, de quatro anos, do vizinho tinha quebrado o braço horas antes pulando de cima da mureta e aparentemente a culpa era dela. Por estar sentada numa cadeira na calçada, ela foi considerada o adulto responsável da ocasião.

No momento em que a menina pulou do muro, ela estava concentrada em abstrair o mundo exterior. Ela estava ocupada fazendo os sapatos do urso. A voz aguda da criança questionava demais. O porquê do circulo de madeira, o porquê de a linha ser azul, o porquê de ser um urso. Crianças sempre querem saber demais. E ela precisava se proteger do mundo, e o mundo se proteger dela.

'Sua culpa... chorando...'

A voz fatiava as barreiras que ela costurava ao seu redor. De baixo pra cima, diagonal... 'muro...' de cima pra baixo... 'pulou...' diagonal, de cima pra baixo, reto.. 'braço...' As palavras penetravam sua bolha de silêncio... 'essa merda de ponto cruz'.

'Para de falar!' As palavras escaparam da garganta em um tom mais alto do que ela previu. Fechou os olhos e tentou respirar fundo. Abriu os olhos e agora o marido estava parado em frente à cadeira de balanço

'Você precisa se controlar, Cecília..' Ele começou um sermão e enquanto falava, rodava a faca de cortar carne que estava repleta de cubinhos de pimentão grudados na lateral. Um cubo de pimentão voou pela sala, ricocheteando no abajur e grudando na cristaleira. Ela acompanhou, com os olhos, o movimento do legume que escorregava pelo vidro, deixando um trilho de azeite.

Olhou para baixo e continuou o ponto cruz. De baixo pra cima, diagonal, de cima pra baixo, reto, de baixo pra cima, diagonal..

'Cecília, você precisa entender que o mundo é maior do que o seu ponto cruz'. Ele voltou a falar, mas agora batia na testa dela com o indicador da mão livre. ' Isso precisa entrar na sua cabecinha...'.

Ela respirou fundo, sentiu o calor subindo pelas pernas, pelo tronco. A onda fervilhante percorreu os braços até a ponta dos dedos. Tentou focar no ponto cruz, mas era tarde demais.

Arrancou a faca, cheia de pedacinhos de pimentão, da mão direita do marido e cravou o pedaço de metal na altura do estômago do homem parado à sua frente. Enfiou a faca até o cabo, ela sentia o sangue escorrendo pelos dedos, pelas mãos. Uma gota desceu pelo braço iniciando um fluxo que despencaria no cotovelo.

Os olhos dele se encheram de lágrimas, os dela de satisfação.

Ela sentiu felicidade se espalhando pelo corpo que formigava de prazer. O corpo pesava em direção à faca. Rodou a cabeça, estralando o pescoço e forçou o corpo ainda quente na direção oposta à ela. O cadáver caiu acertando a mesinha de centro.

Foi até a pia e lavou as mãos. Ele estava morto, ela relaxada. Sentou na cadeira de balanço e, aproveitando o silêncio, terminou o ponto cruz.

terça-feira, 16 de março de 2010

Quarta

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quinta-feira, 11 de março de 2010

àos meu amigos, à minha família.

Esse é um texto diferente do que geralmente posto no blog. Mas eu achei que deveria postar. Porque eu cansei de guardar ele pra mim.

Era mais confortável quando eu estava em casa. Todas as minhas filosofias e conceitos trancadas na rotina e na segurança da novela das oito.
Eu não tinha que explicar o qeu eu acredito, eu simplesmente acreditava.
Eu tinha a certeza de um bar na sexta-feira, de amigos de manhã.
Era confortável não ter que me esforçar pra explicar o que eu estava sentindo. As pessoas sabiam. Sabiam se eu estava triste, feliz, ou entediada. Sabiam se eu estava.
Eu podia ligar e em cinco minutos estariamos passeando pelo condomínio. Ou em meia hora estaríamos juntos em algum lugar.
Sinto saudade deles, da rotina, dos meus sorrisos e das internas.
Quem me conhece sabe que eu não sou dada a elogios. Ou evidenciar o que eu sinto em relação às pessoas.
Mas hoje eu queria que vocês tivessem certeza do que eu sinto em relação a vocês. Pra não deixar dúvidas eu escrevo com todas as letras: Eu amo vocês.
Eu descobri o conceito do amor. O amor dos livros, da saudade. Eu não sou romântica. Não escrevo sobre amor. Mas hoje é diferente.
Hoje é tudo diferente.
Eu descobri que não importa onde eu esteja, quão longe eu esteja, meu amor por vocês vai ser pra sempre.
E que não importa pra onde a vida nos leve, a gente sempre vai lembrar de onde veio. O tempo não para e caminha sempre pra frente. Mas as memórias são sempre do que já foi.
Descobri que ninguém tem saudade do que foi ruim. E que vocês são a melhor e única parte de mim.

Vida longa à vocês.

domingo, 7 de março de 2010

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Tentando colocar em imagens o que eu falhei em palavras.

( se clicar na imagem aumenta)

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Babe.

Uma bola de repulsa entalada na garganta rasgava os tecidos da sua integridade. Os dedos fincados em suas ancas a pressionavam contra o chão de terra. Suas mãos, cansadas de tentar, estiravam ao lado do corpo inerte.

Ela estava fria, morta. Pelo menos se sentia assim. Todo o calor do corpo estava concentrado nos olhos, que mesmo cerrados não impediam as lágrimas de escorrer. As gotas queimavam a face no caminho formado entre os cílios e os cabelos. Seus olhos não brilhavam mais.

O corpo dele sobre o dela, repetia os movimentos que rasgavam suas entranhas. Ela podia sentir coragem e razão se esvaindo do seu corpo, penetrando pela terra. Ela abriu os olhos e viu um semblante de prazer, quase um sorriso. As lágrimas corriam em velocidade constante.

Uma gota de suor começava a se formar no queixo, o líquido acompanhava o movimento. A gota caiu acertando o ombro esquerdo. Funcionou como uma bala, furando o corpo, corroendo a carne.

Ambos os olhos se encontraram. O prazer nos olhos dele sugavam seu orgulho e toda a integridade.

- Babe, não consigo continuar se eu te vir chorando...

Ele pegou uma camisa azulada e cobriu o rosto encharcado de lágrimas.

Ela via as fibras do tecido entrelaçadas umas às outras. O corpo começou a esquentar, incitando abstração. Não sentia mais desespero. Estava mergulhada em um tanque de frustração. Estava calma. Sentiu serenidade se espalhando pelas veias, preenchendo todo o vazio. Fechou os olhos.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Ego

Estavam paradas, uma de frente pra outra. Os olhos marejavam ódio e desespero. As mãos suadas tremiam com o indicador no gatilho. O suor escorria pela raiz do cabelo em direção às bochechas.

"Filha da puta", pensou. "Filha da puta!", disse. "FIlha da puta! Filha da Puta! Gritou se curvando como se sentisse dor. Agora, as lágrimas escorriam pelo rosto em direção ao queixo e despencavam no carpete creme.

Ela estava descalça, os dedos do pé se comprimiam contra o chão. Ela queria sentir dor.

Respirou fundo, levantou o tronco em um movimento ritmico e voltaram a se encarar. A mão livre colocou atrás da orelha a franja que antes colava na lateral do rosto. Os joelhos levemente dobrados mostravam a fragilidade de ambas.

"Teu ego me fudeu, sua filha da puta. Enfia teu ego no cu."

Mirou em direção ao peito da outra e atirou. Duas vezes. Acertou bem no meio do espelho.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Bárbara

- Eu acho que ela exagerou

- Eu não.

- Você é amiga de quem? Minha ou dela?

- Desculpa, Bárbara, mas eu teria feito pior.

- Mas precisava bater no rosto?

- Você devia ter considerado essa possibilidade.

- Como eu vou trabalhar amanhã?

- Acho que se passar uma base, dá pra disfarçar.

- Meu rosto tá inchado, roxo e flácido.

- Pensa pelo lado positivo, é só do lado direito.

- E disforme!

- A gente põe um gelo hoje e capricha na maquiagem amanhã.

- Acho que eu vou falar que estou com gripe.

- E o vírus saiu de você e te encheu de porrada?

- Não tá ajudando.

- To sendo realista. Mantenha o fato, mude a causa.

- Como assim?

- Sei lá, fala que foi assaltada.

- E o ladrão levou minha bolsa e meu olho direito?

- Ele bateu em você pra conseguir roubar a bolsa.

- Eu podia acusar o Paulo e usar a Lei Maria da Penha.

- Que Paulo?

- Meu ex.

- Isso é patético.

- Não consigo ver meu olho!

- Ficar olhando no espelho não ajuda.

- ...

- Bárbara... Você tá chorando?

- Não, meu olho não parou de lacrimejar desde que ela me bateu.

- Ahn.

- Ainda acho que ela não exagerou.

- Achei que ela quereria saber.

- Ela é casada com ele há 12 anos. Ela provavelmente já sabia.

- As vezes, ela não tem conhecimento de causa.

- Que?

- As vezes ela não sabe que ele é ruim porque ela só namorou ele a vida inteira.

- Na verdade, isso até faz sentido.

- Viu!

- Mas você ainda não tem nada a ver com isso.

- Eu fui ser uma boa amiga alertando ela.

- Você não desiste!

- Do que?

- De provar que você tá certa.

- Não é isso, eu to tentando analisar dos dois lados.

- Na boa?

- ...

- Não.

- Talvez tenha sido meio inapropriado, mas ela exagerou.

- Meio inapropriado!?

- Muito inapropriado.

- Você tá me cansando.

- Porquê?

- Você tem noção do que você disse?

- Mais uma vez: você é amiga de quem? Minha ou dela?

- Pelo amor de deus Bárbara!Você disse que semana passada achou o marido dela ruim de cama!

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Primeira semana

Não era dor e definitivamente não era prazer. Não era medo, não era vontade de voltar, não era frio nem quente, era novo. Era vazio. Era cheio, leve. Não era desespero, não era insensatez. Não era palpável, não era visual. Não era literal. Era cortante, confortante. Era Saudade.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Inflada com ar

Parada, de olhos vendados, em frente a um precipício. Uma fita verde lhe cobrindo os olhos. Verde cor de folha, cor de vida.

Os pés imóveis e o precipício se aproximando dos dedos tamborilantes. Ela ia cair. O precipício caminhava na velocidade do tempo, das horas.

Inflada com ar. Cheia de nada, mas ainda assim cheia. Cheia de dores que não tem nome. De amores que não vão ser. Cheia de futuro renegado, de futuro sem prospecto. Cheia de penumbra, de vultos e desfoque. Como uma bexiga de gás hélio que flutua até estourar pela pressão. Ela ia cair.

Imóvel, a espera da chegada do vazio ao seus pés. Via verde. Via branco, via nada além de um centímetro a sua frente.

Tinha uma excitação pueril. Tinha uma hesitação pueril. O abismo estava à cinco de seus pés. Em vinte e quatro estaria à quatro. Em noventa e seis estaria à um. Ela ia embarcar.