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terça-feira, 10 de maio de 2011

Taís

Os lábios se distanciavam por um centímetro. Não dois pares de lábios, dois lábios. Nunca vira superior e inferior se tocando. Eles só pairavam num rosto sonolento e desavisado.

Era provavelmente uma condição médica, porque o garoto respirava pelas papilas. Se não fosse doença, não tinha desculpa que justificasse aquele espaço de um dedo no meio da boca.

Até comendo. Ou o garoto engolia de boca aberta ou só quando ninguém estivesse olhando. Não era possível! Pra mastigar, de boca fechada ele não fazia questão. Deviam filmar a boca dele durante uma refeição. Daria pra explicar a digestão do amido de forma dinâmica.

E o garoto da boca aberta tinha um amigo de bochechas grandes. Ela podia jurar que uma mão espalmada não cobriria toda a área de possível contato, a bochecha dele se media em pés. Elas sobrepunham a boca e geravam um visual ‘Emília a procura do visconde’

Perto daquelas bochechas, até o nariz se inibia, os olhos fitavam miúdos e as orelhas se escondiam. Pra complementar, as bochechas eram fora do contexto, pois o menino era magro. Muito magro. O peso da cabeça fazia com que andasse pendulante.

Ao lado dele se sentava uma garota loira de cabelo descolorido e ressecado que era amiga de outra com gengivas que vazam os lábios. A loira namorava um menino narigudo com estômago alto que respirava pelo diafragma como uma criança de cinco anos.

Taís, a observadora, não tinha lábios separados, nem bochechas grandes, nem cabelo ressecado, nem gengivas aparentes, nem assunto.

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