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domingo, 27 de dezembro de 2009

Vinte e quatro de dezembro

Um pinheiro decorado com luzinhas de natal e bolas brancas enfeitava o canto de uma sala retangular pronta para receber cerca de 20 pessoas. O sol já tinha se posto, a temperatura ainda era de 32 graus e a árvore exibia pequenos Papai Noéis com gorros vermelhos prontos para esquiar.


A casa era da avó, que desgostava das noras pelo simples fato de elas serem casadas com os filhos, que se desgostavam entre si pelo simples fato da falta de convivência. Um morava no Rio, o outro morava no litoral sul, e o outro morava na mesma cidade, num apartamento que a mãe achava perigoso demais.

Às oito chegaram os primos que exibiam sorrisos falsos e comemorativos. Não se davam bem com os tios por problemas de negócios. Família, família, negócios a parte.

Às oito e vinte chegou o avô, ex-marido da avó, separados por traição. O avô teve um caso com a tia-avó por 26 anos. Caso que foi esgoelado, num almoço de domingo, pela tia-avó depois de três garrafas e meia de vinho e duas doses de uísque.

A tia-avó chegou as quinze para as nove trazendo uma farofa com pimenta demais, e logo atrás chegaram os filhos e suas respectivas esposas junto com seus respectivos filhos. Cinco primos ao todo. A diferença de idade e o ego não ajudavam. Um era velho demais, o outro era novo demais e o outro era burro demais.

Eram dez horas quando a avó começou a chamar todos para se juntarem à mesa. Eram dez e vinte quando ela conseguiu. Sentaram-se na sala retangular preparados para jantar. O neto mais velho serviu o prato até as bordas e se sentou ao lado do pai. Ambos comiam com a mão direita e colocavam o braço esquerdo na frente do prato, funcionando como uma muralha.

A avó engasgou com o excesso de pimenta na farofa, o avô tentava flertar com uma das noras enquanto lambia os dedos sujos de frango. Os primos comiam mastigando de boca aberta, lembrando uma centrífuga.

Quase ninguém levou o prato até a pia. Os que levaram, colocaram um sobre o outro sujando o fundo do prato de cima com os restos do jantar.

As onze e meia todos já estavam trocando os presentes comprados por obrigação. À meia-noite, ninguém percebeu. À meia-noite e quinze, todos se cumprimentaram e foram chamados pela avó até a varanda.

Posicionaram uma câmera no capô da Mercedes do irmão mais velho, todos sorriram para a foto. À meia-noite e meia, foram embora.

4 comentários:

  1. Espero que seu Natal nao tenha sido assim! =)

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  2. Ah, o espírito natalino !!
    "Ambos comiam com a mão direita e colocavam o braço esquerdo na frente do prato, funcionando como uma muralha." ÓTIMO !

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  3. Hahaha,fico ña dúvida se isso realmente aconteceu,não duvido,enfim,belo post,mas quero desejar também,um belo fim de ano e começo,e meio e fim de novo,hehe.
    abraço !
    ps: sobre o teu coment lá no blog,eu concordo contigo em GRANDE parte,não tô tão convicto como você,mas às vezes me pego tendo essa dúvida sobre o que é real,no que acreditar,particularmente acho q a gente tem q acreditar em algo,nem que seja nós mesmos,mas eu gostei do comentário,abre um leque de discussões,só tenho uma dúvida,como era quando você criança?! acreditava em papai-noel ou papai do céu?!

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  4. Júlia,obrigado por responder,também sou espírita e tô quase na mesma levada que você,minha mãe (que era espírita) me obrigou a fazer catequese antes de me apresentar ao espiritismo,mas mesmo assim ainda fico na dúvida em várias questões,acho que o 'X' da coisa é a fé,quase tudo depende dela,mas enfim,gostei de ter esclarecido a coisa.e concordo,energia não produz esperma.
    abraço !
    ps:o único velhinho de barba branca que ainda acredito é meu pai,e o nome dele é Jesus,pura e cômica coincidência.

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