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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Panamá

Chegou no café e se deparou com duas estátuas de gesso penduradas na parede. Os anjos olhavam em direções opostas, um zelando a porta e todos que por ali entravam, e outro zelando as xícaras fumegantes de todos os clientes.

Uma das paredes, a rosada, era oposta a uma cortina de fios de miçangas e borboletas que cobria uma parede branca.

Se sentou em um banco almofadado, em frente a uma mesa de três pernas e pôs-se a esperar. Se sentou desleixada, apoiando os pés na parte inferior da mesa, e começou a mordiscar os lábios copiosamente.

Algumas pessoas entraram, outras saíram, e inúmeras xícaras de café fumegaram. Divagando em pensamentos, se deu conta que estava em um café. Os cafés eram os berços dos personagens intrigantes, cheios de mistério, era o ponto de partida dos escritores solitários, das inspirações. Foram em cafés desconhecidos que nasceram grandes clássicos, que nasceram amores, que morreram personagens. Naquele café poderiam ter surgido assassinatos, poesias, aventuras. Muitas mágoas podiam ter sido afogadas em uma daquelas xícaras com asa de porcelana. E ela alí, mordiscando os lábios.

Endireitou a coluna, e tentou fazer um olhar profundo, com ar de quem filosofa sobre a vida. Devia ter ido de chapéu panamá. Uma hora depois, e ela ainda estava lá esperando. Já tinha lido os poemas das paredes, analisado os bolinhos do balcão, decorado os sabores de chicletes no baleiro... Seu olhar misterioso já tinha derretido, e ela podia jurar que a flor amarela dentro da garrafa no centro da mesa tinha murchado levemente.

Não tinha tido nenhuma epifania criativa, a coluna já estava torta. Não sabia o porquê. Se levantou, agradeceu a garçonete e saiu apressadamente, como se tivesse tido uma grande idéia ou tomado uma grande decisão. E ela tinha. Iria comprar um chapéu panamá.

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