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quarta-feira, 27 de maio de 2009

Luzia

- Pedro! Pedro!

- Oi! Tudo bem?

- Tudo! É verdade que você ta namorando?

- É!

- Não acredito!

- Como você sabe?

- O pessoal tava comentando... e faz tempo?

- Ah.. uma duas semanas!

- Ai que lindo! E como ela é?

- Han.. morena, bonita, alta..

- Morena? Achei que você preferisse as loiras.

- Mas com ela é diferente. Um cabelo comprido. Lindo!

- Tipo até a cintura?

- É... tipo até a cintura.

- Ta gostando muito dela?

- Nossa, demais! Casaria com ela, até.

- Mas e se você não gostar mais dela até lá?

- Acho que vou gostar pra sempre!

- Pra sempre é muito tempo.

- Não o suficiente.

- Você não sabe nem se vai estar vivo amanhã.

- Larga a mão de ser pessimista!

- Não é pessimismo. É a realidade.

- Não vou discutir.

- Você nunca discute. Fala mais sobre ela!

- Ela quem?

- A namorada.

- Ah! Não tem como descrever!

- Ela é alta, né?

- É...

- Mais alta que você?

- Um pouco... na verdade, bastante.

- É inteligente?

- Olha, eu tenho que ir. Já estou atrasado e ainda tenho que passar pra ver minha namorada.

Caminhou até o ponto de ônibus da avenida principal e se sentou. Deu uma mordida no seu sanduíche e olhou pra cima. Viu na janela do segundo andar a menina morena e alta, de quem acreditava que iria gostar pra sempre.


"A primeira namorada. Tão alta,
que o beijo não a alcançava.
O pescoço não a alcançava.
Nem mesmo a voz a alcançava.
Eram quilômetros de silêncio.

Luzia na Janela do sobradão."

( Carlos Drummond de Andrade - Órion)

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